Nona parte
Na Parábola da Grande Ceia, Jesus revelou que muitos perdem a consciência do convite de Deus por causa das distrações causadas por coisas lícitas e que podem ser consideradas até mesmo como bênçãos divinas, como, por exemplo, a aquisição de propriedades, a melhoria da capacidade de produção, ou até mesmo a constituição de uma família (Lc 14.15-24)! Isso mesmo! Até o casamento, uma instituição divina (e portanto uma bênção!), pode se tornar uma distração, algo que pode atrapalhar a nossa dedicação ao Senhor:
“O que realmente eu quero é que estejais livres de preocupações. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor; mas o que se casou cuida das coisas do mundo, de como agradar à esposa, e assim está dividido. Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, para ser santa, assim no corpo como no espírito; a que se casou, porém, se preocupa com as coisas do mundo, de como agradar ao marido. Digo isto em favor dos vossos próprios interesses; não que eu pretenda enredar-vos, mas somente para o que é decoroso e vos facilite o consagrar-vos, desimpedidamente, ao Senhor.” (1 Coríntios 7.32-35)
Até mesmo o nosso próprio serviço prestado ao Senhor pode se tornar uma distração! Os irmãos de Éfeso perderam o seu primeiro amor, ainda que não tivessem parado de trabalhar para Deus! Encontramos também uma clara advertência do Senhor Jesus no episódio bíblico de Marta e Maria (Lc 10.38-42). Enquanto Maria estava aos pés de Jesus, Marta se queixava pelo fato de haver ficado sozinha na cozinha, servindo. Não creio que Marta estivesse trabalhando somente para manter a casa em ordem. Penso que ela tinha uma boa motivação: ela queria ser uma boa anfitriã; ela queria receber e servir bem ao Senhor Jesus! No entanto, até mesmo os bons motivos podem se tornar distrações, e por isso Jesus disse o seguinte a Marta:
“Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lucas 10.41,42)
“Uma só coisa é necessária”! Nada, absolutamente nada é mais importante do que a nossa concentração em buscá-Lo sem distração alguma! Precisamos vigiar com relação a todas as coisas (até mesmo as coisas boas e lícitas que podem ser consideradas como bênçãos em nossas vidas!) que podem nos distrair, tirar o nosso foco de termos o Senhor Jesus em primeiro lugar!
Este é um caminho de proteção do nosso amor pelo Senhor. O nosso cuidado nestas quatro áreas é útil para prevenirmos e evitarmos a perda (ou depreciação) do nosso primeiro amor. Contudo, há os que já perderam o seu primeiro amor! Assim sendo, é preciso fazer alguma coisa com relação à perda já sofrida. Para essas pessoas, eu gostaria de compartilhar o que eu tenho entendido nas Escrituras como sendo o caminho de volta.
Décima parte
O CAMINHO DE VOLTA
O caminho de volta é o caminho da restauração. Foi o próprio Senhor Jesus que propôs o caminho da restauração:
“Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2.5)
Cristo mencionou três passos práticos que devemos dar a fim de voltarmos ao primeiro amor:
1. Lembra-te!
2. Arrepende-te!
3. Volta à prática das primeiras obras!
O primeiro passo é um ato de recordação, de lembrança do tempo anterior à perda do primeiro amor. Não há melhor maneira de retomá-lo do que esta: relembrarmos os primeiros momentos da nossa fé, da nossa experiência com Deus! O profeta Jeremias declarou:
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” (Lamentações de Jeremias 3.21)
Algumas lembranças têm o poder de produzirem em nós um caminho de restauração. Muitas vezes não nos damos conta do que temos perdido. Uma boa forma de dimensionarmos as nossas perdas é contrastarmos o que estamos vivendo hoje com o que já experimentamos anteriormente em Deus.
Recordo-me de uma ocasião em que fui visitar os meus pais e entrei no quarto que, quando solteiro, eu compartilhava com os meus irmãos. O simples fato de eu entrar naquele ambiente trouxe à minha memória inúmeras lembranças. Revivi em minha mente os momentos de oração e intimidade com Deus que eu havia passado lá. Recordei, emocionado, as horas que, diariamente, eu passava lá, trancado em oração!
Sem que ninguém me falasse nada, percebi que a minha vida de oração já não era como antes. Estas lembranças ocasionaram naquela época uma retomada da minha dedicação à oração, e, até mesmo hoje, ao recordar aqueles momentos da poderosa visitação de Deus que eu vivi naquele quarto, sinto-me motivado a resgatar o que eu deixei de lado!
Contudo, a lembrança em si do que eu havia provado lá não produziu mudança alguma. Ela simplesmente trouxe um misto de saudade com tristeza e arrependimento, pelo fato de eu ter deixado de lado algo tão importante!
E esta é exatamente a segunda atitude que Jesus pediu aos irmãos de Éfeso: “Arrepende-te!” Não basta termos saudades de como as coisas eram anteriormente! É preciso que sintamos dor por termos perdido o nosso primeiro amor! Precisamos lamentar, chorar, e clamar pelo perdão de Deus! É imperativo reconhecer que a perda do primeiro amor é mais do que um desânimo, ou qualquer outra crise emocional! É um pecado de falta de amor, de desinteresse para com Deus!